sábado, 12 de julho de 2014

Dia #1

Hoje vocês passaram aqui cedo.
Saí de casa como quem ía na padaria e logo mais estava em casa.
Chegamos no hospital e o meu medo era que remarcassem e adiassem mais uma vez o meu terço.
Mesmo duvidando da minha capacidade de orar nesses dias.
Na última semana eu não era capaz de terminar um pai nosso. E nem uma ave maria. Esqueci trinta vezes a nossa oração do anjo da guarda.
Entre carinhos, diante dos seus pais, a minha vontade esmo era de te dar um beijo na boca daqueles que fazia a gente esquecer da onde estava, onde tinha parado e o que estava fazendo rs
Eu olhava pra sua mão e ficava ali, estática. Ouvia o que você tava falando mas assim como nas ave marias, eu me perdia.
Nos abraçamos tanto. Nos olhamos tanto.
Mas passou tudo tão rápido.
Meu coração me mandava ir no seu lugar. E a minha cabeça que nem é dessas tentava imaginar você saindo bem dali. Da onde você ainda nem tinha entrado.
Descobri uma coisa sobre mim. Tento ser útil quando não capaz de reagir. Minha única reação é essa rs
Você entrou e eu nunca chorei tanto em toda minha vida. E descobri o porquê de nunca ter terminado uma oração. Eu tinha que parar o que tava fazendo pra não chorar.
A cirurgia demorou 365 dias pra passar. Eu não conseguia pensar em muita coisa.
Ouvi várias vezes sua mãe dizer que você não merecia isso.
E mesmo não te conhecendo quando o pior aconteceu, eu comecei a me colocar no seu lugar.
E entendi tudo.
E a conclusão disso tudo: você realmente não merecia ter passado por isso tudo.
Mas quem disse viver é merecimento né?
Viver é viver e fim. Não tem essa da gente merecer ou não, definitivamente.
Parei de chorar e me preocupei em ser útil, só pra variar.
Eu andava de um lado pro outro.
Antes de tudo acabar, numa tentativa de melhorar as coisas fomos comer.
E olha amor, nada descia.
A ansiedade ficava tampando a minha garganta. Ela deixava a respiração passar, mas passava doendo.


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